Atividade econômica tem 1ª retração do ano em maio em resultado pior que o esperado, mostra BC
Por Camila Moreira SÃO PAULO (Reuters) - A atividade econômica brasileira interrompeu quatro meses seguidos de expansão e registrou em maio a primeira contração no ano, em resultado bem pior do que o

Por Camila Moreira
SÃO PAULO (Reuters) - A atividade econômica brasileira interrompeu quatro meses seguidos de expansão e registrou em maio a primeira contração no ano, em resultado bem pior do que o esperado sob o peso da agropecuária, mostraram dados divulgados pelo Banco Central nesta segunda-feira.
O Índice de Atividade Econômica (IBC-Br), considerado um sinalizador do Produto Interno Bruto (PIB), retraiu 0,7% em maio na comparação com o mês anterior, em dado dessazonalizado informado pelo BC.
A leitura do mês foi bem pior do que a expectativa em pesquisa da Reuters de estabilidade, em meio a um cenário de política monetária restritiva e perspectiva de tarifas de 50% do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre produtos brasileiros a partir de agosto.
Um fator "que pode ter contribuição negativa nos próximos meses são as tarifas impostas por Trump, apesar de estimarmos um impacto total relativamente pequeno e esperamos algum acordo que reduza essas tarifas", disse André Valério, economista sênior do Inter, prevendo que o impacto será sentido no terceiro trimestre.
A abertura dos dados do BC mostrou que em maio houve grande peso da Agropecuária, que normalmente tem desempenho forte no início do ano, com queda de 4,2% do IBC-Br do setor sobre o mês anterior.
O IBC-Br da indústria também teve desempenho negativo, de 0,5%, enquanto o índice de serviços ficou estagnado. Excluindo a Agropecuária, o IBC-Br apresentou recuo de 0,3%
Dados do IBGE mostraram que em maio somente o setor de serviços apresentou ganhos, com alta de 0,1% no volume em relação ao mês anterior, mas abaixo do esperado.
Já a produção industrial contraiu 0,5% e as vendas no varejo tiveram queda de 0,2%.
Na comparação com o mesmo mês do ano anterior, o IBC-Br teve alta de 3,2%, enquanto no acumulado em 12 meses passou a um ganho de 4,0%, de acordo com números não dessazonalizados.
Em sua última reunião de política monetária, em junho, o BC decidiu elevar a taxa Selic em mais 0,25 ponto percentual, a 15,00% ao ano, e destacou que antecipa uma interrupção no ciclo de alta de juros, considerando que a taxa deve permanecer inalterada por "período bastante prolongado".
Analistas apontam que a economia brasileira deverá registrar desaceleração gradual diante do impacto da política monetária restritiva, ainda que o mercado de trabalho robusto ajude a manter a resiliência da atividade econômica.
Ainda assim, na sexta-feira o Ministério da Fazenda revisou para cima a previsão para o crescimento do país neste ano, a 2,5%, passando a ver uma desaceleração apenas marginal em 2026.
No entanto, essas estimativas ainda não consideraram efeitos potenciais do aumento das tarifas sobre o Brasil pelos EUA de 10% para 50%, anunciado na semana passada pelo governo Trump e que podem entrar em vigor em agosto.
"Na nossa opinião, o mercado de trabalho robusto e o impacto de medidas de estímulo do governo ... devem impedir uma reversão acentuada da atividade doméstica", avaliou Rodolfo Margato, economista da XP, prevendo crescimento do PIB de 2,5% em 2025.
"Por outro lado, as tarifas de 50% anunciadas pelo governo dos EUA sobre os produtos brasileiros colocam viés de baixa em nossa projeção para o crescimento econômico este ano", completou ele, calculando uma redução do PIB de até 0,3 ponto percentual.
A mais recente pesquisa Focus realizada pelo Banco Central mostrou que a expectativa do mercado para a expansão do PIB em 2025 é de 2,23%, indo a 1,89% em 2026.
O IBC-Br é construído com base em proxies representativas dos índices de volume da produção da agropecuária, da indústria e do setor de serviços, além do índice de volume dos impostos sobre a produção.
(Por Camila Moreira)