Brasil estuda responder a Trump com tarifas recíprocas
O Brasil estuda a imposição de tarifas recíprocas aos Estados Unidos, depois que o presidente Donald Trump aplicou uma taxa de 50% sobre produtos brasileiros, indicaram fontes do...

O Brasil estuda a imposição de tarifas recíprocas aos Estados Unidos, depois que o presidente Donald Trump aplicou uma taxa de 50% sobre produtos brasileiros, indicaram fontes do governo à AFP, nesta quinta-feira (29).
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) autorizou uma análise interna para determinar se o país pode tomar medidas de represália contra a guerra comercial lançada por Trump, motivada pelo julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, informou um funcionário com conhecimento da decisão.
A Câmara de Comércio Exterior (Camex) terá 30 dias para determinar se as tarifas americanas se enquadram na Lei da Reciprocidade, segundo uma fonte diplomática. Se esse for o caso, um grupo de especialistas vai elaborar "propostas de contramedidas", que podem incluir tarifas recíprocas, acrescentou.
O vice-presidente Geraldo Alckmin disse esperar que isso ajude a acelerar o diálogo e a negociação com os Estados Unidos. Alckmin encerrou uma viagem ao México, onde se reuniu nesta quinta-feira com a presidente Claudia Sheinbaum.
Os dois governos assinaram acordos sobre biocombustíveis e competitividade, mas Sheinbaum descartou a assinatura de um acordo de livre comércio com o Brasil.
As duas maiores economias da América Latina estão sob pressão devido às políticas comerciais de Trump. O México negocia com Washington um acordo de longo prazo para evitar impostos semelhantes aos impostos ao Brasil.
Durante um telefonema com Sheinbaum em julho, Lula enfatizou a importância de "aprofundar" a relação comercial com o México para enfrentar o "momento de incerteza" que seu país enfrenta devido às tarifas alfandegárias.
- "Com ninguém" -
Segundo a fonte diplomática, o governo brasileiro vai informar formalmente amanhã aos Estados Unidos sua decisão de estudar possíveis represálias. "O espaço para consultas diplomáticas permanece aberto."
Mais cedo, o presidente Lula havia expressado sua frustração, durante um evento do governo: "A gente não conseguiu falar com ninguém dos Estados Unidos."
A relação entre os dois países se encontra em ponto-morto desde a entrada em vigor das tarifas, no último dia 6. No mesmo dia, o Brasil recorreu à OMC contra as taxas impostas pelo governo americano.
Autoridades brasileiras reconhecem, no entanto, que o recurso perante a organização é, sobretudo, "um gesto político", do qual "não sairá algo produtivo", ressaltou a fonte diplomática.
Aprovada em abril por unanimidade no Congresso, a Lei da Reciprocidade permite ao governo implementar contramedidas para responder a ações, políticas ou práticas unilaterais de um país ou bloco econômico que tenham impacto negativo na competitividade do Brasil.
A legislação autoriza o governo a suspender concessões comerciais, investimentos e obrigações relacionadas a direitos de propriedade intelectual.
Ao contrário da maioria dos países alvos das tarifas punitivas de Washington, os Estados Unidos têm superávit comercial com o Brasil, que importa principalmente motores e máquinas não elétricas (16%) e combustíveis (10%) dos EUA.
Trump justifica as tarifas com o que considera uma "caça às bruxas" contra seu aliado Bolsonaro, acusado de tentativa de golpe de Estado.
O Supremo Tribunal Federal decidirá sobre a culpa ou inocência do ex-presidente a partir de 2 de setembro.
Bolsonaro está em prisão domiciliar preventiva e, se condenado, pode pegar mais de 40 anos de prisão.
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