Promotoria pede 18 meses de prisão com suspensão da pena para Gérard Depardieu
A promotoria francesa solicitou, nesta quinta-feira (27), uma sentença de prisão com suspensão da pena de 18 meses para o astro do cinema Gérard Depardieu, por supostamente agredir sexualmente duas mulheres durante as gravações de um filme em 2021, mas...

A promotoria francesa solicitou, nesta quinta-feira (27), uma sentença de prisão com suspensão da pena de 18 meses para o astro do cinema Gérard Depardieu, por supostamente agredir sexualmente duas mulheres durante as gravações de um filme em 2021, mas o veredicto final será dado em 13 de maio.
"Isso é material e intencionalmente uma agressão sexual", declarou o promotor Laurent Guy durante suas alegações finais, antes de solicitar ao tribunal penal de Paris uma sentença de prisão com sursis de 18 meses para o ator de 76 anos.
Depardieu, que já participou de mais de 200 filmes e séries de televisão, é a figura de maior destaque a enfrentar acusações de violência sexual, na resposta do cinema francês ao #MeToo, um movimento que ele descreveu como "terror".
O intérprete, que ganhou fama internacional por seu papel em "Cyrano de Bergerac", não reagiu ao pedido da promotoria, mas, minutos antes, disse diante de uma câmera da AFP que estava "cansado".
"Durante três anos fui arrastado na lama por mentiras e calúnias que corroem meu sangue e meu desejo de me comunicar com pessoas de todas as idades", afirmou o acusado, vestido de preto, em suas últimas palavras perante o tribunal.
Depardieu sempre alegou inocência durante os quatro dias de julgamento, afirmando que, embora seja "vulgar, rude e desbocado", não cometeu nenhuma agressão sexual durante as gravações de "Les Volets Verts".
Amélie, uma cenógrafa de 54 anos, e Sarah (pseudônimo), uma assistente de direção de 34 anos, o acusam de agressão e assédio sexual, além de insultos sexistas, durante as filmagens do filme de Jean Becker.
As denunciantes eram "mulheres em situação de inferioridade social" frente a um ator que "goza de notoriedade, de uma aura e de um status monumental no cinema francês", destacou o ministério público.
Além de uma multa de 20.000 euros (124.120 reais) e uma indenização às autoras do processo, o promotor solicitou que Depardieu se submeta a tratamento psicológico e que seja inscrito no registro de autores de crimes sexuais.
Os argumentos da promotoria "provam a culpa do réu", disse Carine Durrieu Diebolt, advogada de uma das demandantes. Para o advogado de Depardieu, Jérémie Assous, "são simplesmente mentiras".
- "Apologia ao sexismo" -
Durante todo o julgamento, o primeiro contra ele por esse tipo de crime, Depardieu defendeu sua inocência: "Não vejo por que eu perderia meu tempo apalpando uma mulher, seu traseiro, seus seios. Eu não sou um pervertido do metrô", afirmou.
Ele admitiu ter agarrado Amélie pelos quadris "para não escorregar" do banco durante uma discussão sobre o cenário do filme. A versão da demandante é diferente.
"Ele fecha as pernas e agarra meus quadris", descreveu Amélie, lembrando a "força" do ator, "seu rosto grande", "seus olhos vermelhos, muito excitados" e suas palavras: "Venha e toque meu grande guarda-sol. Vou enfiá-lo na sua xota!".
Sarah, por sua vez, relatou que o ator tocou suas nádegas e seios em diversas ocasiões, apesar de ela ter dito claramente "não" nas últimas duas vezes.
O acusado nega os relatos.
"Não é nem Jean Valjean, nem Cyrano de Bergerac, nem os homens que interpretou. Ele é Gérard Depardieu e é misógino!", declarou nesta quinta sua advogada, Claude Vincent, em seus argumentos finais.
As advogadas também aproveitaram para denunciar os múltiplos ataques que elas e suas clientes receberam durante o julgamento, inclusive por parte do advogado de Depardieu, que chamou suas clientes de "histéricas".
"Durante quatro dias, não assistimos a uma estratégia de defesa", mas sim à "apologia ao sexismo", lamentou Vincent.
Para Jérémie Assous, Amélie e Sarah são contadoras de histórias a serviço de uma "organização" de "feministas raivosas" que se beneficiam da "publicidade [do meio de investigação] Mediapart com a cumplicidade da promotoria".
O veredicto será anunciado em 13 de maio, anunciou o tribunal.
Para além do julgamento, que pode levá-lo a enfrentar a até cinco anos de prisão, 20 mulheres acusam o astro internacional por comportamentos similares, mas a maioria das denúncias foram arquivadas porque os supostos crimes prescreveram.
A atriz francesa Charlotte Arnould foi a primeira a registrar uma queixa. Em agosto, a Promotoria de Paris solicitou que o ator fosse julgado por estupros e agressões sexuais.
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